Corinthiano fanático é pleonasmo. O Corinthians é assim: ou se ama, ou se odeia. Ele sempre desperta nas pessoas algum sentimento. Incomoda. Entra cutucando. Machucando. Deixando feridas que não cicatrizam. É por isso que tem tanto anti-Corinthiano. É fácil reconhecer um anti-Corinthiano. Sempre cabisbaixo, olhar triste, rancoroso e magoado, é o tipo mais invejoso que existe. Odeia a felicidade alheia. E, como todo Corinthiano é muito feliz, ele é anti.
É muito mais fácil reconhecer um Corinthiano. Apaixonado, obstinado, esbanja alegria por onde passa. Capaz de qualquer coisa por aquilo que acredita. "Na vitória ou na derrota eu grito forte: Corinthiano eu serei até a morte."
Ser Corinthiano é mais do que isso. É roer unhas, dedos e cotovelos quando o Timão joga, mesmo que esteja ganhando de 10 a zero. É vibrar cada segundo, aplaudir cada jogada, enfrentar horas de chuva, de frio e de calor, para ver o Corinthians jogar na quarta-feira à noite, em Xiririca da Serra, contra o XV de Piri-Piri. É mentir para o patrão, "matar" mãe, avó e tia toda semana para não perder o emprego. Deixar de entregar trabalho na faculdade e não ser reconhecido pela professora de quarta-feira porque você só assistiu a uma aula dela durante todo ano para ver o Timão jogar. Ficar de castigo sábado à noite, porque mentiu para mãe dizendo que ia bater uma bolinha com os amigos e embarcou com os Gaviões para o Couto Pereira. Juntar cada centavo para comprar a nova camisa que chega a custar ¼ do salário.
É reconhecer que é sofredor. Todo Corinthiano é sofredor sim, porque a gente sente na pele, como uma faca entrando no peito e rasgando o coração, cada jogada errada, cada passe mal dado, cada bola fora do gol, cada gol tomado, cada cartão amarelo, vermelho, derrota, escanteio, lateral, falta. Por cada jogador bom que é vendido, ou aquele que não dá certo, que não joga nada, que só quer dinheiro. A gente sofre com os mercenários que vem e que vão, cartolas, preço de ingresso, tabela mal-feita, adversários fracos. Tudo isso maltrata o Corinthiano porque nós amamos o futebol.
Torcer para o Corinthians é como um casamento para vida toda. É dormir e acordar pensando nele, é contar da má fase para os amigos e da boa fase para os inimigos. É saber que namorar são-paulino, palmeirense, santista ou qualquer torcedor de outro time, nunca dará certo. Porque Corinthiano está mais no Pacaembu do que em casa, está mais no Morumbi do que na escola, está mais no Canindé do que no bar, está mais na Vila do que na padaria.
Corinthians não é para qualquer um, não é moda. Só nasce no coração dos humildes e daqueles que estão preparados para abrigar um amor de mãe. Amor maior que o peito, orgulho de ser e assumir aquilo que é sob qualquer circunstância. Muitos não estão preparados para isso. Basta apenas paciência, treino, humildade para reconhecer os erros e, talvez, nascer mais muitas e muitas vezes. Só quem é Corinthiano sabe do que estou falando.
Parabéns para nós. Corinthians, 99 anos do amor maior.
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